A fazenda foi fundada em 1855, pelo Major Candido Ribeiro e sua esposa Joaquina Maria de Jesus, com uma história bem diferente, pois os proprietários tinham um filho, com o apelido de Candoca, conhecido como o “Menino de Ouro”. A criança havia nascido muito doente e seus pais haviam realizado uma promessa, se o mesmo atingisse 15 anos de idade, doariam o equivalente ao seu peso em ouro à Santa Casa de Misericórdia. O menino sobreviveu, e em 5 de maio de 1883, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com o título de Barão de Ribeiro Barbosa. O Barão foi comandante do 6º Esquadrão de Cavalaria da Guarda Nacional de Bananal, juiz de paz, vereador, presidente do Diretório Municipal do Partido Conservador e presidente da Estrada de Ferro Bananalense. Além da fazenda dos Coqueiros, o barão também foi proprietário das extintas fazendas Rialto e Cachoeirinha. Dos tempos áureos, a Fazenda Coqueiros ainda preserva as senzalas, lavador e terreiro de café, moinho e móveis antigos, com os utensílios domésticos do século XIX e alguns documentos históricos como jornais da época e o banheiro mais luxuoso da época.
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Casa Grande da Fazenda Coqueiros - Bananal/SP |
Nos tempos mais atuais, a fazenda tinha sido dividida por partilha de bens entre os descendentes, para então, o Sr. Sinval da Silveira Brum, comprar a parte dos irmãos de sua esposa, reunindo toda a propriedade novamente. Este mesmo Sr. Era um homem muito rico e poderoso anos atrás, continha diversas lojas no Rio de Janeiro e na época da guerra, fabricou carros gasogênicos, acabando por ficar intoxicados por esses gases e morrendo em consequência dessa inalação. Nos dias de hoje a fazenda pertence à família Brum, mais especificamente Maria Elisabeth Brum Gomes e Antônio Augusto Ferreira Gomes que reside na mesma e é aberta para o turismo histórico, cultural e pedagógico, além do místico, que se desenvolveu com a demanda existente pois a religião dos escravos tem grande peso na região, sendo também um local de locação para diversos eventos e até casamentos pelos proprietários atuais.
Acerca de nossa visita, fomos recebidos pela Beth que toma conta da fazenda apenas nos finais de semana já que tem sua rotina na semana no Rio de Janeiro, contando com seu marido para tomar conta no restante dos dias, e que acaba por residir lá. De começo já notamos um amplo espaço na fazenda e com muito verde ao seu redor, de entrada já notamos as peculiaridades dos séculos passados, um lavatório para as mãos nem na entrada da casa, com uma essência de plantas. No interior claramente se nota que a estrutura do passado foi mantida, com algumas reformas realizadas pelos proprietários para que ela se mantivesse, diversos objetos e móveis da época, desde uma moeda própria da cidade na época próspera do café até objetos de tortura para escravos que não seguiam as regras e ordens de seu barão. Diante das histórias contadas por Beth e sua empregada principalmente, que assumia a maior parte da visita e era encarregada de nos mostrar os cômodos da fazenda bem como contar as histórias que a mesma continha, ouvimos desde a criação da fazenda até histórias tristes e de sofrimento, como de um quarto sem janelas e que só se abria por fora para manter uma tia da família que era extremamente doente e que acabara por passar sua vida inteira naquele quarto e fatalmente falecendo no mesmo, bem como uma “lenda” de uma escrava que havia sido enterrada no chão da cozinha pela sua patroa, pelo pecado de ter perdido um bebê na cozinha e sangrado um bocado durante uma festa de seu barão, para que servisse de exemplo.
Diante de tais históricas, por mais histórico e pedagógico que seja toda a estrutura e arquitetura da fazenda, fica difícil não se deixar afetar por tais histórias e na visitação dos locais que aconteceram as mesmas, um certo clima pesado acerca de tudo isso, e daí se parte uma reflexão, pois durante a nossa visitação, estava havendo uma comemoração dos advogados da cidade num complexo logo ao lado da fazenda com música alta e churrasco, visto que como dito acima, o local também é locado para eventos diversos, nos fazendo pensar como seria possível transformar um local que aconteceram tantos sofrimentos e histórias pesadas no passado em festa nos dias atuais?
Como mencionado pela própria Beth, na parte mística do turismo, diversas pessoas com diversas religiões e lugares fizeram visitas e constataram a energia pesada do local diante de tudo que aconteceu no passado, ainda nos dias de hoje, sendo que lindos quadros que estavam nesse complexo de festa e que retratavam escravos da época, foram pintados por uma senhora(moça?) que incorporava uma artista da época para fazer tais retratos.
De todas as histórias, artefatos, locais da fazenda que nós visitamos o maior questionamento pairou sobre isso, como celebrar em um local de passado tão triste? Que talvez se responda pelo fato de outras pessoas não terem refletido tão afundo sobre toda a história que está presente ali...